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Os 4 Dogmas Marianos





Carlos Eduardo Carneiro Costa Hermeto | Formado em Filosofia e graduando em Teologia pelo universidade PUC-RIO.


Adrentrar-se no artigo de fé do Credo: “Foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria”, é deparar-se com um pilar do Catolicismo: a Santíssima Virgem Maria. Em sonho, S. Dom Bosco, inspirado por Deus, certa vez enxergou um grande navio governado pelo Papa e duas colunas acompanhavam a navegação. No topo de uma coluna se encontrava a Eucaristia, a Salvação dos que Creem (Salus Credentium), e no da outra Nossa Senhora, o Auxílio dos Cristãos (Auxilium Christianorum). Por este sonho muito expressivo, nota-se a magnitude da centralidade de Nossa Senhora no Credo Petrino. O mistério da vida de Jesus Cristo está intimamente unido a sua Mãe. Ele a escolheu, como bem ensina S. Luís de Monfort, para ser o meio perfeitíssimo para começar e terminar a sua obra redentora. Assim sendo, o Catecismo da Igreja Católica, em vista de ensinar os fieis o papel elementar de Maria na histótia da salvação convida os fiéis a aprofundar o conhecimento da Mãe de Deus contemplando os 4 dogmas afirmados sobre ela.


O primeiro Dogma confirmado sobre Nossa Senhora, o de sua divina maternidade, foi de extrema importância. Maria é mãe de Deus - esta afirmação dogmática foi fruto do amadurecimento do estudo da Cristologia em defesa das heresias dos primeiros séculos. A partir do momento que os Padres da Igreja, em especial os capadócios[1] em consonância com os alexandrinos[2], passaram a ter ia maior preocupação de afirmar a união hipostática de Cristo, ou seja a pessoa divina do Filho que assume em plenitude a natureza humana (Jesus Cristo é inteiramente Deus e homem, sem divisão e nem confusão, sem mudança e sem separação).  Segue-se a seguinte conclusão, se Nossa Senhora é Mãe de Jesus, não pode ser mãe apenas da natureza humana, mas ela gera em seu ventre o Deus humano, Nosso Senhor Jesus Cristo. Em uma relação trinitária pode-se dizer que, o Pai elegeu Nossa Senhora para gerar o Filho através da força do Espírito Santo. Portanto em um mistério de amor Deus escolheu Nossa Senhora para ser sua Mãe através do mistério da encarnação. Este dogma foi proclamado no 1º Concílio de Éfeso em 431, e demonstra a sublime dignidade de Nossa Senhora e o amor que Deus depositou na Virgem[3].


O segundo dogma a ser proclamado é o da Virgindade perpétua de Nossa Senhora (áeiparthenos), significa que Maria foi virgem antes do parto, durante o parto, e depois do parto (ante partum, in partu, et post partum). Essa afirmação não deve nos surpreender, pois Deus realizou grandes milagres na economia da salvação, sendo este um consideravelmentesublime, pois foi em vista de acentuar a dignidade de Nossa Senhora e de sua missão sobrenatural de ser Mãe do Cristo. O Catecismo da Igreja Católica recorda que são inválidos os argumentos que acusam Jesus de ter irmãos - como Tiago e José em Mt 13,55 - pois nas escrituras o vocábulo irmãos é utilizado em muitas ocasiões para se referir a parentes próximos. Pelo contrário as Escrituras corroboram para uma analogia de Nossa Senhora à Arca Incorruptível da Aliança (Ex 25, 10-11; Dt 10,3; Lc 1,49). Ainda a exegese contemporânea se utiliza das passagem de Lc 1, 35 Τὸ γεννώμενονἅγιον κληθήσεται υἱὸσ θεοῦ - que literalmente é “Aquele que nascerá santo será chamado filho de Deus” referindo-se assim a um parto especialmente separado pela santidade de Cristo. Este dogma foi proclamado em 553 no II Concílio de Constantinopla.


O terceiro e o quarto dogma, apesar de desde os primórdios da Igreja estarem presentes na fé comum católica, foram proclamados solenemente como verdades de fé em tempo mais recente. O Dogma da Imaculada Conceição de Maria, do qual o documento Lumen Gentium diz: "foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função." Em vista da grande missão que Nossa Senhora havia de realizar, ela nasceu sem a mancha do pecado original; nas mesmas condições de Eva. Para restaurar o não da primeira vivente, Nossa Senhora abraça com seu fiat uma missão corredentora, a de ser Mãe de Deus e de todos os viventes. O dogma da Imaculada foi proclamado em 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX pela bula ineffabilis Deus.


Como aquela que perfeitamente se uniu ao mistério de Jesus, pelo sim da encarnação e da entrega do Filho à Cruz, Nossa Senhora também recebeu a graça de acompanhar Jesus na glória dos Céus em corpo e alma antes do fim dos tempos. Cristo no fim de sua vida ascende ao Céu por suas forças para reinar até o fim dos tempos. Para honrar o mistério da Maternidade de Maria, ela no fim de sua vida é assunta aos Céu para ser Rainha de toda corte celeste. Assim nos diz o CIC 966: “A assunção da Virgem Maria é singular participação na ressurreição de seu Filho e antecipação da ressureição de outros cristãos.” Este dogma foi proclamado em 1º de novembro 1950 pelo Papa Pio XII, na constituição Munifincentissimus Deus:


"Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".


Estes 4 dogmas são expressão da grandiosidade da materna relação de Nossa Senhora com a Igreja. Cristo no algoz sofrimento da Cruz, confiou os membros da Igreja, representados pelo discípulo amado, sob a proteção de Nossa Senhora. E assim, confirmou para o corpo, a grandiosidade da Virgem: “eis tua mãe” (Jo 19,27). Resta concluir que Igreja que é corpo de Cristo e imagem da Virgem, confirmou na fé dos fiéis a magnificência de Nossa Senhora a partir da proclamação dos 4 dogmas. Maria é Nossa Mãe, sempre Virgem, Imaculada e Rainha Assunta do Céu e da Terra. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BENTO XVI. Audiência Geral: A divina Maternidade de Maria. Roma, 2008. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2008/documents/hf_ben-xvi_aud_20080102.html>. Acesso em: 29/06/2024.


BÍBLIA DE JERUSALÉM. Edição revista e ampliada. São Paulo: Paulos, 2013.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 2000.


PAULO VI, Lumen Gentium, Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II. Roma, 1964. Disponível em: <https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html>. Acesso em: 29/06/2024


PIO XII, Constituição Apostólica Munifincentissimus Deus. Roma, 1950. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html > Acesso em: 29/06/2024


Notas de Rodapé:


[1] São Basílio Magno (330 – 379 d.C), São Gregório de Nissa (335-394 d.C.), São Gregório Nazianzeno (330-390 d.C).

[2] Santo Atanásio de Alexandria (296-373 d.C),, São Cirilo de Alexandria (375 - 444 d.C),

[3]  “A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida. Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, cm 431, que Maria se tornou, com toda a verdade. Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: ‘Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne’.” CIC, 92

 

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