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Os influxos Tomistas no Pensamento de Chesterton

Updated: Nov 17, 2024



Willian Oliveira de Sá

Formado em Filosofia e graduando em Teologia pelo universidade PUC-RIO.



Um imprescindível fato biográfico que diz respeito ao teor filosófico de Gilbert Keith Chesterton é a sua familiaridade com a filosofia tomista, donde encontra, praticamente, todo o arrimo para a construção do seu pensamento; já que ele próprio diz que o tomismo é a filosofia do senso comum. Fato esse que se vê corresponder com a apresentação anterior sobre o “método filosófico natural”, sem dizer de tantas outras aproximações que rotundamente poderiam ser descritas, o que cobraria uma maior extensão dissertativa. Tais contribuições do Doutor Comum foram de relevante ajuda para a solidificação da reta intenção de G. K. Chesterton, que quando jovem estava ameaçado a sucumbir às ondas das heterodoxias modernas, como se tornava natural naquele período e naquela região de Londres.


O professor Ivanaldo Santos, no artigo que escreveu a esse respeito: “A influência de Tomás de Aquino na obra de G. K. Chesterton”, elenca cinco questões que justificam o quão acentuado é o espírito tomista na obra chestertoniana. É como se segue: Primeiro, o uso equilibrado da razão, isto é, não permitia que a razão fosse a única via de acesso ao conhecimento, mas era convicto de que ao lado da razão caminha a fé - que em momentos, para Chesterton, bem pode ser comparada com a imaginação. Contudo, de igual modo estava atento ao extremo oposto, o de se negar a razão e fazer de suas obras, surrealistas ou fideístas. Nesse sentido complementa o professor Ivanaldo:


"É o uso equilibrado da razão que fez Chesterton compreender que é preciso defender a supremacia da civilização e do Ser contra a barbárie e o Não-Ser. Enquanto muitos escritores e filósofos defendem a barbárie, o niilismo e o Não-Ser, Chesterton, fundamentado pelo pensamento do Aquinate, demonstrou que defender a barbárie e o Não-Ser é um absurdo. Para ele, defender essas questões é negar o princípio básico da realidade, ou seja, que existem objetos no mundo."


A segunda questão versa sobre a influência de Vincent Joseph McNabb, Padre dominicano que teria sido amigo e professor e um dos principais contribuidores para a conversão de Chesterton ao catolicismo, que teve sua vida empregada na defesa do cristianismo, utilizando como arma sua vasta sabedoria em matérias de teologia e filosofia, por exemplo. Depois de o cientificismo e o positivismo, no século XIX, tentarem banir a Igreja Católica e depois de a submeter a um período de perseguição, ao evidenciarem-se grandes figuras como o Cardeal Newman e o Pe. Robert Hugh Benson que difundiam o pensamento genuinamente católico, é que se fortalece a proximidade entre Chesterton e o Padre McNabb, tratava-se de as atenções estarem voltadas fortemente para o tomismo, novamente.


E é no contexto do entusiasmo intelectual desse novo florescer que o Professor Ivanaldo também dirá no mesmo artigo que Chesterton destacava-se dentre os mais qualificados alunos para os quais o exímio Padre McNabb lecionava tomismo, com uma eficaz peculiaridade, porém, jamais trabalhada pelo movimento neotomista: a literatura. Na década de 1930, em plena maturidade artística e intelectual, Chesterton afirmava que Tomás de Aquino é uma “mente multifacetada” , um “titã de vigor intelectual” e “um herói” [28] para todos que lutam em prol da verdade e da fé. Por causa disso o Aquinate tornou-se “um dos dois ou três maiores homens que já viveram”.


A terceira questão, diz respeito à solução para a questão social, que oferece a teoria do Distributivismo, a qual está em conformidade com a Doutrina Social da Igreja. Chesterton nutre entusiasmo pelo distributivismo devido, também, aos estudos das obras de Santo Tomás que fornecia os caminhos para se construir uma justa solução, que não pendesse nem para usura do capitalismo, nem para a escravidão socialista. Com isso via a incompatibilidade das teorias do liberalismo selvagem e do socialismo com a proposta do Evangelho. Dessa forma, busca o autor, também, evitar que ambos: capitalismo e comunismo, gerem o materialismo, o qual é também fonte de loucura para humanidade, uma vez que os dois estão a se digladiar pelas realidades meramente materiais (O que será mais desenvolvido no segundo capítulo).


A quarta questão traduz a fabulosa criação do personagem Padre Brown, homem dotado de esplêndida lógica aristotélica-tomista, que o auxilia no desvendar de crimes policiais e enigmas, e com isso entrou para a classe das grandes obras de romance policial, à semelhança de “Sherlock Holmes”. Nos contos do Pe. Brown, Chesterton faz uso da lógica aristotélica-tomista, a qual o próprio Chesterton alega ser a lógica por excelência. Além disso, nesses contos há uma grande abertura para a dúvida e a objeção. Seguindo o método desenvolvido por Tomás de Aquino.


Com isso, numa casuística muito bem-humorada e instigante, G. K. Chesterton transmite profundas lições da Fé Cristã e da eficaz lógica tomista - o quanto vale conhecer sobre as estruturas do raciocínio, seus erros (as falácias), etc. - que triunfam sobre grandes problemas modernos, - que se procurará explanar novamente mais adiante -, como por exemplo os apontados por Daniel Araujo em seu artigo “As lições do Padre Brown”: enganosos extremos, otimismo e pessimismo, isto é, a reprovação radical pela desistência e a aprovação também radical pela permissividade irrefletida, que são vencidos pelo amor transcendental, ou seja uma motivação para se ganhar outrem para o bem, sem qualquer razão terrena, mas com o puro e simples desejo de lhe querer o bem eterno, a vida em Deus, como está exposto em Ortodoxia; o cientificismo que é vencido pela reflexão de que “no fim o que importa é conhecer a alma humana”.


Como dito por Daniel Araujo o que atesta que há dramas que não cabem em um “tubo de ensaio”, não são comprovadas em laboratório; a contradição do ateísmo crédulo e estúpido. “Conhece a famosa citação de Chesterton: “Quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer coisa”? Pois então, na verdade ela foi colocada na boca do sacerdote detetive em A Incredulidade do Padre Brown.” Ao se dizer que não se acredita em Deus porque não é visível, por exemplo, acaba por ocorrer de ter de fazer um esforço maior ainda e esdrúxulo, de se acreditar em qualquer crendice. Isso é verificável numa certa contradição no escolher não acreditar no Deus único e verdadeiro, cuja doutrina é acessível e confiabilíssima, em contrapartida optar por fiar-se em doutrinas obscuras, pouco acessíveis e dignas de desconfiança; por último, a soberba e o orgulho no achar-se sempre superior moralmente, que pode facilmente desembocar na desonestidade intelectual, uma vez que se que se obstina pela vaidade e pelo amor próprio desordenado, os critérios do juízo sobre a veracidade e validade deixam de ser a razão e limita-se na vontade, por sua vez subjugada pelos apetites, o que pode ser vencido pela humildade que conduz ao reconhecimento da própria contingência, da suscetibilidade aos erros e do quanto lhe falta conhecer diante da contemplação da verdade (conhecimento).


Por fim, a quinta questão diz da peculiar biografia de Santo Tomás de Aquino escrita por Chesterton com grande familiaridade e entusiasmo, com cujo estilo singular que lhe é próprio, convida a uma profunda reflexão quanto ao nível de compactuação e adesão, do mundo e individual, às heterodoxias, já que, inclusive, são justamente os católicos dissidentes, o público-alvo da biografia. Esses que pelo acatamento dos erros modernistas pouco a pouco vão se afastando da sanidade mental, assunto que será objeto da apresentação mais adiante. É por causa disso que nessa biografia Chesterton denuncia os “erros modernos” e, acima de tudo, o “retorno ao paganismo” promovido pela modernidade. Segundo ele, é por causa desse retorno que a maioria das escolas filosóficas modernas duvidam da possibilidade de pensar. E, com isso, o pensamento é reduzido ao niilismo, à negação de tudo e de toda esperança.


Com isso mister é afirmar rotundamente que os frutos do caminhar de Chesterton pelos pensamentos como os de Santo Tomás tornaram-se de grande proveito para todos os seres humanos da atualidade, cujos intelectos encontram-se cada vez mais obscurecidos pelos erros e mentiras dos raciocínios modernistas, uma vez que como diz o Padre Scott Randall Paine, é Chesterton um precursor para a atualidade, dos grandes filósofos clássicos, dado que já não se tem tanta facilidade na abstração das meditações propostas por Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Santo Alberto Magno, São Boaventura etc. Em outras palavras, Chesterton, com seus excepcionais e notáveis predicados -clareza, genialidade, espirituosidade, segurança, retidão, bom-senso, sabedoria etc- é um atalho agradável e confiante de se percorrer de volta à sã filosofia, a ponto de inclusive transformar essas vias em romance policial, por exemplo, como é o caso de Padre Brown.


Chesterton é importante porque muitos não são mais capazes de ler Platão, Aristóteles e Aquino. Perdeu-se a visão do mundo em seu sentido universal, fomos enterrados sobre camadas de insignificância. Sua obra é na verdade uma preparação para a verdadeira filosofia, uma antítese à filosofia moderna que se recusou a começar pelos pontos de partidas evidentes, como a existência deste mundo e de um criador.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ARAUJO, D. As lições do Padre Brown. Sociedade Chesterton Brasil, 2019. Disponível em: <https://www.sociedadechestertonbrasil.org/as-licoes-do-padrebrown/>. Acesso em: 18 nov. 2021

 

MAIER, J. A influência de Tomás de Aquino na obra de G. K. Chesterton. Sociedade Chesterton Brasil, 2020. Disponível em: <http://www.sociedadechestertonbrasil.org/a-influencia-de-tomas-de-aquino-naobra-de-g-k-chesterton/>. Acesso em: 18 nov. 2021.

 

PAINE, S.R. Chesterton e o universo. Brasília: UnB, 2001.

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